Gestão estratégica do fluxo de caixa em empresas agrícolas
Mavielo

INTRODUÇÃO 

Antes de começar a ler esse artigo que trata da “Gestão estratégica do fluxo de caixa em empresas agrícolas” aconselhemos você a realizar a leitura do artigo “Os principais indicadores econômicos e financeiros que os bancos gostam de analisar”, pois lá contém uma gama de indicadores que irão te auxiliar no entendimento desse artigo de fluxo de caixa que é um artigo complementar.

De forma direta, o Fluxo de Caixa é usado dentro das empresas agrícolas para avaliar as movimentações financeiras de entrada e saída de dinheiro num determinado período. Uma boa projeção de fluxo de caixa começa nas negociações, por isso a importância de se ter bons parceiros de negócio, pois ajudam a garantir previsibilidade das entradas e saídas.

Além disso, existem aqueles parceiros estratégicos que em momentos de dificuldades financeiras podem alongar sua dívida ou até mesmo adiantar um recebível. O gestor deve ficar atento ao câmbio, oscilações dos preços das commodities, pragas e as mudanças climáticas que podem impactar a produção.

Esses fatores podem afetar negativamente a geração de caixa e automaticamente aumentam a necessidade de capital de giro. A agriculta basicamente é uma indústria a céu aberto de alto capital intensivo, isso significa que demanda grande quantidade de dinheiro para executar suas operações.

É muito sério a falta de fluxo de caixa, que pode levar empresas lucrativas à falência, sendo que a má gestão do fluxo de caixa ocorre quando os profissionais do agronegócio não estão atentos aos detalhes dos possíveis riscos da atividade e acabam negligenciado pontos básicos de gestão.

Nesse artigo iremos abordar alguns pontos críticos que devem ser trabalhados para evitar os estresses financeiros, pois o agronegócio é uma atividade de risco, podendo ter eventos que não podem ser controlados e que afetam negativamente o caixa e os seus resultados.


PONTOS BÁSICOS QUE PODEM PASSAR DESPERCEBIDOS

Não escolher bem os parceiros de negócio e esquecer de formalizar os contratos da forma adequada.
A escolha de bons parceiros de negócio é fundamental para se ter sucesso, já que a produção por exemplo é comercializada com poucas empresas, e a mesma coisa se aplica para as grandes compras de insumos como fertilizantes e defensivos.

Não significa dizer que se deve negociar apenas com companhias multinacionais e esquecer das empresas nacionais, que também podem gerar oportunidades de negócio. Apesar de ser algo obvio, as vezes nos deparamos com empresas do agronegócio perdendo dinheiro por financiar outros produtores, se aventurar em operações duvidosas ou até estórias de um fazendeiro que tomou um calote do frigorífico que acabou fechando de forma inesperada.

Assim sendo, deve-se ter muito cuidado para não perder dinheiro, sendo que as empresas agrícolas devem criar regras e políticas claras para não prejudicar o fluxo de caixa. Um ponto indispensável antes de fechar qualquer negociação é a leitura do contrato, o produtor tem por obrigação ler os contratos antes de assinar ou passar para seu jurídico essa tarefa, nele devem constar possíveis eventualidades que possam afetar as transações de forma negativa, o produtor sempre deve estar atento, ou seja, deve formalizar via contratos as negociações como uma forma de proteção.


Imobilizar muito capital em ativos de baixo retorno

1. Imobilizar muito capital de giro ou dinheiro de curto prazo e não desembolsar operações de longo prazo, dando assim um passo maior que a perna nos investimentos.

As vezes os gestores podem achar que estão na frente de uma grande oportunidade e acabam se enrolando em suas transações, principalmente quando imobilizam o custeio em compras de terras e em outros ativos
imobilizados, recursos esses que deveriam ser destinados para operação agrícola da empresa.

O agronegócio é uma atividade de alto capital intensivo e necessita de muito dinheiro para manter as operações.

Assim sendo, investir muito capital no imobilizado de curto prazo, acaba criando uma pressão maior no fluxo de caixa da empresa, o que consequentemente aumenta a necessidade de captação de giro com
terceiros, podendo com isso causar problemas nos índices da companhia, nas captações e por último no fluxo de caixa.

2. Não cuidar do efeito do câmbio no fluxo de caixa.
Um dos principais fatores de risco para o agronegócio é a volatidade do real
em relação ao dólar americano, tendo em vista que o câmbio tem apresentado uma variação média de seis vezes o seu valor desde a criação do Plano Real em 1994. Motivo pelo qual a importância de se observar o efeito do câmbio na margem líquida e no fluxo de caixa, principalmente, quando a empresa agrícola está endividada com Dívida líquida/EBITDA acima de 4 (quatro) vezes e não tem o hábito de fazer o estresse de cenário com o mix de moeda.

Além disso, quando não se possui uma política clara de Hedge e se tem alta exposição em moeda estrangeira, é muito importante cuidar do “Hedge de caixa” do dia a dia, fazendo descasamento de moedas, que ocorre quando a empresa vende em reais e possui dívidas em dólares ou vende em dólares possuindo dívidas em reais.

No mundo do agronegócio várias empresas perderam muito dinheiro com operações Hedges desastrosos, normalmente fazendo venda de NDF em dólares ou fazendo cruzamento de moedas. Geralmente se começa com um
Hedge, mas depois vira uma operação especulativa.

Recomendamos muito a leitura do artigo sobre HEDGE.

3. Oscilações do preço das commodities e dos Insumos.
Todo profissional do agro que se preze tem que fazer o “Hedge” para proteger o preço das commodities e dos insumos, com objetivo de eliminar e mitigar os riscos de oscilação de preço que podem afetar as margens da empresa agrícola. Um mecanismo bem assertivo usado por produtores a relação de troca de insumos por commodity.

Com efeito, nunca devemos olhar apenas para preço e se esquecer das margens, isso porque muitas vezes as vendas desastrosas acontecem porque o gestor do agronegócio estava olhando somente o preço e esqueceu das margens e do fluxo de caixa, e se arrepende por não ter negociado no momento certo e perdido a oportunidade.

Ademais, muitas das vezes o gestor tem a percepção de que algo está caro ou barato, e acaba esquecendo de fixar os preços das commodities e dos insumos ou acaba deixando uma das pontas em aberto, esquecendo da regra básica (Comprou/Vendeu), deixando a operação descoberta, causando sérios prejuízos econômicos. Por isso da importância de uma reunião semanal para falar da margem Líquida, abordando os principais cenários para execução da margem Líquida e do casamento de moeda.


A IMPORTÂNCIA DA PRODUTIVIDADE

A importância de olhar além dos números da empresa é em estar dentro da operação, validando constantemente as informações coletadas, ou seja, se aquilo que está nos números reflete a realidade da operação. Os estudos de viabilidade e o mix de cultura são necessários para entender os perfis de gastos da fazenda e desenvolver estratégias voltadas para o fluxo de caixa da empresa agrícola.

A Agricultura é uma atividade de risco, podendo ter eventos não controlados que afetam negativamente o caixa, como surgimento de novas pragas ou eventos climáticos que afetam a produtividade da lavoura. Em linhas gerais sem produtividade não existe faturamento, a baixa produção afeta diretamente o fluxo de caixa da companhia.

Caso a empresa passe por alguma frustração de safra ou dificuldade financeira, essa tem por obrigação documentar o ocorrido através de fotos, lavrar uma ata notarial junto ao cartório local contendo todas informações como: coordenadas, data, hora e tipo de cultura. O agrônomo responsável deverá emitir um laudo de frustração de safra autenticado, relatando os problemas enfrentados, as perdas, notícias, etc.

Além disso, deverá notificar as instituições financeiras e possíveis credores, pois a confiança e a credibilidade valem mais que os números propriamente ditos. Bem como, pedir alongamento ou prorrogação das dívidas, e em último caso Recuperação Judicial, já que muitas das vezes a situação tem solução, mas acaba indo para lado da justiça por má-fé de uma das partes ou por falta de entendimentos entre ambas.


POSSUIR UM BOM ERP - ENTERPRISE RESOURCE PLANNING
O controle de fluxo de caixa se dá através de um bom ERP (Enterprise Resource Planning) que é um software de Planejamento de Recursos Empresariais que melhora a gestão, automatizando os processos e integrando as atividades de finanças, contabilidade, fiscal, estoque, vendas, compras, recursos humanos,
produção e logística.
Normalmente um sistema ou vários são responsáveis por toda gestão da companhia, sendo de suma importância o registro de toda informação gerada pela companhia, pois é através dela que os gestores financeiros conseguem cruzar informações para execução do desenho de diversos fluxo de caixa como:
Fluxo de caixa livre, operacional, projetado, direto/indireto e o fluxo de caixa descontado.


DE ONDE VÊM E PARA ONDE VAI O DINHEIRO

Uma demonstração de fluxo de caixa (DFC) é subdivido em três etapas fluxo de caixa operacional, investimento e financeiro, vejamos as principais diferenças entre os itens:

Operacionais: Custos para transformar a lavoura em formação em commodities
e as vendas provenientes de produtos e serviços.

Investimentos: Basicamente são ativos não circulantes que a empresa comprou
ou vendeu em determinado período que são imobilizados ou intangíveis.

Financeiro: Financiamento e despesas financeiras da operação como um todo,
normalmente provenientes de instituição financeiras.


Demonstrações Contábeis de Fluxo de Caixa

FLUXO DE CAIXA E SEUS USOS E FONTES

Os bancos adoram olhar a questão do fluxo de caixa com os usos e fontes que é uma ferramenta de gestão financeira para mapeamento da movimentação financeira da empresa, ou em palavras mais simples, é a identificação de todo dinheiro que entrou e saiu de uma empresa num determinado espaço de tempo.
Nesse modelo de gestão financeira podemos observar os efeitos das transações no caixa da companhia através da identificação da natureza, permitindo a alta gestão analisar a origem dos recursos captados e aportados, incluindo aplicações, mútuos, pagamentos, investimentos, desembolsos e outros.
Essas questões de gestão financeira são abordadas de forma mais completa no artigo “Os Principais indicadores econômicos e financeiros que os bancos gostam de analisar”.


Vejamos a imagem ilustrativa de fluxo de caixa com usos e fontes de recursos:

OR QUE FLUXO DE CAIXA LIVRE É IMPORTANTE

As empresas do agronegócio podem estar dando lucro e ao mesmo tempo se endividado, mas afinal o que é caixa livre? basicamente é o dinheiro disponível no caixa depois de ter pagado todas as obrigações é representa o recurso livre para pagar dívidas, pagar dividendos ou até mesmo executar recompra de ações.
Definição de fluxo de caixa livre: Caixa gerado pela empresa depois de pagar todos os custos e despesas operacionais, impostos, além de suas necessidades de investimento em CAPEX continuo e o financiamento de seu capital de giro.


Receita Líquida
(-) Custo do Produto Vendido
(=) Resultado Bruto
(-)Despesas
(=) LAJIDA ou EBITDA
(-) Depreciação
(=) LAIR ou EBIT
(-) Imposto de Renda
(=) NOPAT
(+) Depreciação
(-) Variação no Capital de Giro Líquido (NOWC)
(-) Variação de ativos de longo prazo (CAPEX
(=) Fluxo de Caixa Livre


Essa análise é muito valiosa para entender se a empresa está gerando caixa livre, ou seja, gerando saldo positivo na conta corrente para quitar suas dívidas ou está se endividando cada vez mais. O motivo de subir o endividamento pode estar relacionado a inúmeros fatores que vão desde excessos de investimos a uma necessidade maior de custeio.


POR QUE FLUXO DE CAIXA LIVRE É IMPORTANTE

Vejamos o exemplo da SLC Agrícola que gerava caixa negativo mesmo dando lucro líquido, nesses anos 2012 a 2014 foram anos de expansão e muitos investimentos em imobilizado por isso a geração de caixa livre negativo, já em 2015 em diante começa a gerar caixa livre para amortizar dividas e distribuir dividendos aos acionistas.


Geração e uso do caixa livre

CONCLUSÃO

Os profissionais do agronegócio precisam ficar atentos ao fluxo de caixa, pois ajuda ver o passado e quantifica projeções futuras. Através dele é possível melhorar os orçamentos e projetar as necessidades de caixa do período.
Por isso a importância de ter um ERP (Enterprise Resource Planning) que ajuda o gestor a organizar pagamentos e recebimentos de forma segura. Um controle efetivo ajuda os gestores na tomada de decisão e na elaboração dos Hedges, pois não adianta nada ter geração de caixa e deixar o dinheiro na mesa ou muitas vezes acabar falindo justamente por falta de gestão adequada do fluxo de caixa.

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