Introdução
Esses conceitos são pouco disseminados e entendidos no mundo agro, principalmente para pequenos e médios produtores. Com o aumento dos preços dos ativos, principalmente das terras e de outros bens que fazem parte do dia a dia do produtor rural, ficou mais difícil para expandir a operação.
No entanto, existem formas de otimizar o capital e melhorar a rentabilidade sem a necessidade de compra de novos ativos, pois equilibrar a proporção ideal entre ativos próprios e alugados é essencial. A ideia é trabalhar com pouco ativos no balanço, melhorando assim a rentabilidade em logo prazo.
Além disso, a empresa terá mais caixa livre disponível para conduzir suas operações, enfrentar eventuais crises no mercado financeiro ou possíveis frustrações de safra. Neste material, abordaremos conceitos importantes para profissionais e estudantes do agronegócio que desejam aprender mais sobre estratégias de expansão operacional por meio dos conceitos simples como de Asset Light (Leve em Ativos) e Asset Heavy (Pesado em Ativos).
Essas metodologias são amplamente usadas por instituições financeiras e empresas de tecnologia, que podem também ser aplicadas ao agronegócio.
MAS O QUE SERIA ASSET LIGHT E ASSET HEAVY?
Asset Light (Leve em Ativos): Ocorre quando a empresa adota uma estratégia de minimização de ativos próprios, optando por alugar ou arrendar terras, maquinários e veículos. Essa abordagem pode ser utilizada como uma alavanca para impulsionar o crescimento operacional, por meio de contratos de parcerias agrícolas ou até mesmo da diversificação do negócio. Dessa forma, é possível melhorar o Retorno sobre o Capital Investido (ROIC), que representa o retorno total do capital investido, incluindo o dinheiro próprio e de terceiros.
Asset Heavy (Pesado em Ativos): Essa estratégia se concentra na imobilização de ativos como meio de expansão, o que pode ou não resultar em valorização no longo prazo. Durante a pandemia do coronavírus, alguns desses ativos imobilizados mais do que dobraram de preço devido à inflação gerada pelo excesso de liquidez no mercado, resultado das políticas monetárias dos bancos centrais ao redor do mundo para estimular economias estagnadas pelos lockdowns. Tais medidas acabaram por imprimir muito dinheiro para impulsionar o mercado financeiro, o que também afetou a valorização desses.
POR QUE NÃO TUDO PRÓPRIO E NADA ALUGADO?
POR QUE NÃO TUDO ALUGADO E NADA PRÓPRIO?
Uma empresa que possui 100% de seus ativos próprios, está numa boa posição patrimonial, o ativo é importante para minimizar os riscos do negócio, porém ter todo patrimônio imobilizado, talvez não seja a melhor estratégia em logo prazo, pois o produtor não está leve em ativos e está perdendo a chance de rentabilizar melhor o patrimônio se tivesse aumentado em parcerias agrícolas ou aluguel. Um ponto positivo é a possibilidade de usar a depreciação desses ativos para fins de compensação tributária, lembrando que a terra não é dedutível de imposto de renda, apenas as benfeitorias que são realizadas nos imóveis.
Esse conceito pode ser aplicado a todos os ativos imobilizados, especialmente em relação ao aluguel de máquinas e terras. Do ponto de vista tributário, se o produtor rural for pessoa jurídica, é possível obter créditos de PIS e COFINS no caso de aluguel de máquinas e veículos, enquanto os gastos com aluguel de terras são considerados custos operacionais da atividade agrícola.
Se a estratégia for totalmente baseada em Asset Light (Leve em Ativos), os riscos inerentes à captação de recursos e a capacidade de pagamento aumentam de forma significativa. Isso ocorre porque os bancos geralmente são reticentes em conceder empréstimos a empresas com poucos ativos, devido aos riscos envolvidos na operação. No entanto, tudo depende da alavancagem operacional do cliente e dos tipos de garantias que serão atreladas aos recebíveis.
MODELO DE NEGÓCIO ASSET LIGHT NAS TERRAS.
No caso de terras, o equilíbrio entre propriedade e arrendamento pode variar de acordo com o endividamento, que varia de região para região e de safra para safra. Em alguns lugares, é comum ver uma composição de 50% (cinquenta por cento) de terras próprias e 50% (cinquenta por cento) arrendadas, enquanto em outros essa proporção pode ser de 33% (trinta e três por cento) de terras próprias e 66% (sessenta e seis por cento) de terras arrendadas.
Quando a empresa possui um endividamento reduzido, é recomendável evitar a oferta das terras como garantia para obtenção de financiamentos, tendo em vista que as instituições financeiras geralmente exigem garantias de 120% ou até 140%, dependente do da instituição e da negociação, para liberar os recursos.
Existem algumas maneiras de obter financiamento sem a necessidade de oferecer as terras como garantia, as opções mais comuns utilizadas no meio agrícola são a CPR (Cédula de Produto Rural) e o CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio). Por isso, é fundamental entender o melhor equilíbrio entre área própria e/ou arrendada, de acordo com a estratégia e o momento de cada empresa. Um exemplo é a SLC Agrícola, conforme descrito abaixo:
CRESCIMENTO EM CULTURAS DE MAIOR VALOR AGREGADO.
O mix de culturas é uma estratégia que visa melhorar o resultado econômico da empresa ao mesmo tempo em que ajuda a diluir os gastos fixos. Um exemplo bem-sucedido dessa estratégia é o adotado pela SLC Agrícola, que percebeu que a combinação de SOJA e ALGODÃO gera uma rentabilidade por hectare maior do que a combinação de SOJA e MILHO. Essa estratégia permite que o produtor rural extraia a maior rentabilidade possível da área cultivada, otimizando o uso tanto de terras próprias quanto arrendadas.
CASO PRÁTICO DE LOCAÇÃO DE MÁQUINAS.
Para exemplificar a utilização correta de recursos, podemos citar o caso de umaempresa do ramo agrícola que em 2021, ao realizar orçamentos de aluguéis de máquinas pesadas, descobriu-se que outra empresa do ramo agrícola havia locado cerca de 15 (quinze) a 20 (vinte) pulverizadores em um período de 5 (cinco) nos com uma determinada empresa de locação de máquinas pesadas.
Na época, o preço do pulverizador tinha aumentado significativamente, assando de R$ 800 mil para R$ 1.5 milhões, mas a locadora de máquinas havia dquirido os equipamentos pelo preço antigo. Assim, a melhor opção de retorno o investimento era, de longe, a locação do maquinário, em vez de comprá-lo.
Consideramos essa estratégia como bem-sucedida, uma vez que a equipe foi apaz de pensar fora da caixa e tomar decisões inteligentes com base nas condições do mercado. Isso destaca a importância de estar atento aos movimentos do mercado e ter um bom planejamento orçamentário para garantir uma tomada de decisão eficaz para otimizar seus recursos e maximizar seus resultados.
CRESCIMENTO EM DIVERSIFICAÇÃO DE ATIVIDADE.
Um dos modelos de gestão mais interessantes é da Boa Safra Sementes, a empresa possuí um alto retorno sobre capital investido, pois abrange produtores integrados “parceiros de negócio” que são os donos das propriedades rurais e responsáveis pela produção da soja semente.
A companhia fornece equipe técnica qualificada para dar assistência aos produtores e devido ao baixo endividamento, favorece esse tipo de modelo de negócio, pois a Boa Safra fica muito refém da qualidade da soja entregue pelo produtor, que logo depois da entrega precisa ser beneficiada e armazenada.
Assim sendo, uma das estratégias adotadas pela companhia foi a construção de Centro de Distribuição (CDs) nas principais regiões vendedoras, com intuito de melhorar a logística e garantir maior qualidade do produto fornecido no plantio.
QUAIS OS PARÂMETROS DEVEMOS USAR PARA COMPRAR OU ALUGAR?
AFINAL, CAPITAL É UM RECURSO ESCASSO, CERTO!
A importância do equilíbrio entre Asset Light e Asset Heavy é fundamental para tornar a empresa mais eficiente nos investimentos e no retorno do capital a longo prazo. Alguns ativos devem ser alugados e outros comprados, mas é importante saber quando aplicar cada estratégia. Para isso, é muito importante observar alguns pontos antes de decidir pela compra de um ativo ou não.
Algumas das considerações importantes incluem o tempo de vida útil do ativo, os custos de manutenção, a frequência de uso, a disponibilidade de capital, a possibilidade de revenda, a tecnologia envolvida, entre outros fatores. Além disso, é preciso avaliar a situação financeira da empresa e entender se a compra desse ativo comprometerá ou não sua saúde financeira no longo prazo.
Com base nesses pontos, a empresa poderá tomar decisões mais acertadas e escolher o melhor mix entre Asset Light e Asset Heavy. Outrossim, será possível maximizar o retorno do capital investido e garantir a eficiência operacional e financeira da empresa. Vejamos alguns pontos que devemos observar:
• Moeda usada no projeto;
• Data de referência;
• Recursos e fontes;
• Carga tributária (impostos);
• Valor do investimento (ativo fixo e necessidade de capital de giro);
• Taxa mínima de atratividade (custo do capital);
• Depreciação do ativo (contábil e fiscal);
• Vida útil total do ativo;
• Gastos pré-operacionais;
• Gastos com saídas;
• Receitas com entradas;
• Valor residual;
• Gastos com finalização ou encerramento do projeto.
Conclusão
Portanto, são muitas as premissas a serem analisadas para escolher qual estratégia adotar entre Asset Light e Asset Heavy e a execução de um bom planejamento orçamentário. Possuir muitos ou nenhum ativo imobilizado pode ser prejudicial para a sua operação, sendo importante manter um equilíbrio.
Encontrar o número ideal para a sua operação pode ser um desafio, mas é importante lembrar que existem maneiras de aumentar o Retorno Operacional Sobre o Investimento (ROIC) sem a necessidade de imobilização do fluxo de caixa em ativos fixos. Isso permite que as empresas se tornem mais flexíveis e possam aumentar o seu volume de faturamento e rentabilidade, garantindo maior liquidez.
Assim sendo, é fundamental avaliar o custo de oportunidade e o tempo de vida útil de um ativo, além de considerar as condições de mercado e as opções de financiamento disponíveis. Com um bom planejamento e análise criteriosa, é possível encontrar a melhor estratégia de investimento em ativos, aumentando seu volume de faturamento e rentabilidade, garantindo maior liquidez.
Ao final o objetivo é maximizar o retorno do capital investido dos acionistas para perpetuação e crescimento do negócio no longo prazo.
Disclaimer: Este artigo/e-book foi criado pelo autor, que assume total e exclusiva responsabilidade por todo o seu conteúdo, incluindo quaisquer ofensas a direitos autorais e intelectuais de terceiros, conforme a legislação vigente. O autor declara estar ciente de que poderá responder administrativamente, civilmente e criminalmente em caso de reprodução indevida de frases, citações, textos ou conceitos de outros autores, bem como de conteúdos de livros, e-books, sites da internet ou qualquer outra conduta que configure plágio, sem dar os devidos créditos. A MAVIELO se isenta da responsabilidade quanto ao conteúdo aqui apresentado.